"VERMELHO"


Deu na Coluna do Diário (23/11/07), assinada por Rodrigo Lima:

"Os '90 anos da Revolução Russa' é tema de encontro do PCB em Rio Preto no domingo, às 10 horas, no Clube do Lago. O presidente da legenda na cidade, Valter de Lucca, informou que será promovida uma palestra sobre o tema com o professor Igor Grabois, dirigente estadual da sigla".

Fonte: Diarioweb

SERVIDORES REELEGEM PRESIDENTE*


Jocelito Paganelli

A atual presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Rio Preto e Região, Celi Regina da Cruz, foi reeleita para o cargo e permanecerá à frente da entidade por mais quatro anos, de 2008 a 2011. A chapa encabeçada por Celi foi a única inscrita para disputar a eleição do sindicato que terminou na última sexta-feira (dia 9). Dos 1.574 votos válidos dos servidores, 1.457 indicaram a reeleição de Celi. O votos nulos somaram 46 e os brancos 71. De acordo com o presidente da Comissão Eleitoral, Paulo Franco, durante dois dias, 12 urnas percorreram instituições municipais.

Os votos foram recolhidos em quase 200 pontos nas cidades de Rio Preto, Guaraci, Bady Bassitt, Uchôa, Ipiguá e Icém. O sindicato tem 2.455 servidores associados e o quórum para validar a eleição é de 50% mais um desse total, que corresponde a 1.229 associados. A servidora Marilda Cristina Abrahão de Araújo Rodrigues, da Defesa Civil Municipal, tentou inscrever uma chapa para concorrer com Celi, mas teve o registro de inscrição indeferido pela Comissão Eleitoral.

* Matéria publicada no Diário da Região (11/11/2007).

PT CONVIDA PTB E PC DO B PARA INTEGRAR FRENTE*

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Jocelito Paganelli
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Representantes do PT, Psol, PCB, PMN e PDT, partidos que integram a Frente Trabalhista composta para a disputa da eleição municipal de 2008, se reuniram ontem e definiram que mais dois partidos serão chamados para integrar a composição. De acordo com o presidente do PT, Ailton Bertoni, o PTB e o PC do B receberão convites para se juntar à frente formada para, provavelmente, concorrer com o "grupão" que tem com base o PPS, partido do prefeito Edinho Araújo, o PSDB e o DEM.
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O presidente do PDT, Carlos de Arnaldo, afirmou que os partidos da Frente da Trabalhista se comprometeram a abrir mão de candidaturas próprias para apoiar um único nome, que deverá ser indicado a partir de um consenso do grupo. "Todos deixaram claro que abrirão mão de candidaturas próprias para chegar a um único nome", disse. O grupo agendou nova reunião para o dia 22. Os dois partidos que serão convidados para ingressar na Frente Trabalhista compõem a base de apoio ao prefeito Edinho. O PTB tem a vice-prefeita Eliana Storino e o PC do B, o vereador Maurin Alves Ribeiro.

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* Matéria publicada no Diário da Região (8/11/2007)

"INDIFERENÇA" E "INFIDELIDADE" PARTIDÁRIA EM RIO PRETO


Clayton Romano
Historiador - Membro do PCB-Rio Preto

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Os números da pesquisa Ibope sobre a preferência partidária em Rio Preto, publicados no Diário de
ontem (3/11), revelam aquilo que, na prática, a cidade há tempos já sabia... Aqui, como em outros tantos rincões deste país continental, o personalismo é ainda a forma predominante nas relações políticas e os partidos são seu principal instrumento.
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Durante a primeira quinzena de outubro, o instituto de pesquisa ouviu 406 riopretenses (196 homens e 210 mulheres), divididos segundo o grau de escolaridade ("Até a 4ª Série do ensino fundamental"; "5ª a 8ª Série do ensino fundamental"; "Ensino médio"; "Ensino superior") e a renda familiar ("Mais de 5 salários míninos"; "De 2 a 5 salários mínimos"; "Até 2 salários mínimos").
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Foram feitas duas perguntas: 1) "Por qual destes partidos o(a) sr(a) tem maior simpatia ou preferência?" e 2) "Nos últimos dias muito se tem falado sobre fidelidade partidária, isto é, se os mandatos pertencem aos candidatos ou aos partidos políticos pelos quais foram eleitos. Na sua opinião, um mandato pertence ao partido político ou ao próprio candidato eleito?".
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Eis os resultados:
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PREFERÊNCIA PARTIDÁRIA

- "Nenhum/Não tem preferência" - 46%
- "PT" (Partido dos Trabalhadores) - 17%
- "PMDB" (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) - 14%
- "Não sabe/Não opinou" - 7%
- "PSDB" (Partido da Social-Democracia Brasileira) - 6%
- "PSB" (Partido Socilaista Brasileiro) - 2%
- "PDT" (Partido Democrático Trabalhista) - 1%
- "DEM" (Democratas, ex-PFL - Partido da Frente Liberal) - 1%
- "PPS" (Partido Popular Socialista) - 1%
- "PSOL" (Partido Socialismo e Liberdade) - 1%
- "PTB" (Partido Trabalhista Brasileiro) - 1%
- "PV" (Partido Verde) - 1%
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> "PCdoB" (Partido "Comunista" do Brasil) e "PP" (Partido Progressista) também foram citados, mas não atingiram 1% da preferência dos 406 entrevistados.
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FIDELIDADE PARTIDÁRIA ("A quem pertence o mandato"?)
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- "Pertence ao próprio candidato eleito" - 48%
- "Pertence ao partido político" - 37%
- "Não sabe/Não opinou" - 15%
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> Clique
aqui para ver a pesquisa (arquivo em formato pdf).
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Como se nota, em ambos os casos, o índice de adesão aos partidos aparece sempre em desvantagem - ora em relação à indiferença ("Nenhum/Não tem preferência" - 46%), ora ao "próprio candidato eleito" (48%) -, debatendo-se com os altos índices dos que "não sabem" ou "não opinaram" (7% em "Preferência Partidária" e 15% em "Fidelidade Partidária").
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De outro modo, também é possível argumentar que a soma dos percentuais de todos os partidos citados pelos entrevistados (45%) praticamente empata com o índice de "indiferentes". Logo, os partidos políticos em Rio Preto desfrutariam da preferência ou simpatia de metade da população; isto é, uma situação bem diferente do cenário de descrédito traçado. Ledo engano...
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O índice de adesão partidária mais próximo da realidade vivida na cidade está menos na "Preferência" estimulada pelo Ibope e mais na defesa dos riopretenses da "infidelidade" partidária dos políticos. Em outras palavras, o resultado da segunda questão formulada pelo Ibope diz mais sobre a vida política de Rio Preto do que os percentuais de preferência partidária.
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Isso ocorre por dois motivos. Primeiro, porque o resultado de 45% de simpatia e adesão ao partidos mascara a real presença do personalismo nas relações políticas verificadas na cidade. Em termos gerais, as opiniões aferidas em Rio Preto são compatíveis com recentes médias nacionais, porém, não escondem suas especificidades.
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Se, por um lado, os números riopretenses confirmam a preferência dos brasileiros pelo PT, PMDB, PSDB - nessa mesma ordem e, aproximadamente, com os mesmos percentuais - , por outro, a "lista" de partidos mencionados pelos entrevistados coincide com a representação desses mesmos partidos no Legislativo municipal.
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Exceto PSB, PDT e PV, atualmente todos os demais possuem vereadores na Câmara; e os 2% do PSB certamente se devem à ascendência do "cacique" Valdomiro Lopes e à "liderança" de Manoel Antunes.
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Com isso, a "Preferência" registrada pela pesquisa não refletiria também uma certa identificação da população com o partido do vereador de sua simpatia? Ou pior: os partidos não seriam tomados pelos eleitores como mera extensão dos próprios políticos, tal como ocorria na época da República Velha?
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Veja-se o caso do PPS, por exemplo. Em 7 anos de governo "pepessista" na cidade, o partido tem apenas 1% de "Preferência", o que leva a crêr que enventuais bônus políticos colecionados pela gestão foram e serão creditados única e exclusivamente na conta de Edinho Araújo, e não na do partido. Ou seja, o exemplo "pepessista" atesta a permanência do personalismo na arena política de Rio Preto, agora, em versão profissional.
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Por tudo isso, a defesa da "infidelidade" partidária, expressa por 48% das pessoas ouvidas pelo instituto, reforça a chaga do iberismo e de seu caractére personalista mesmo aqui, numa terra com gente regida ao "passo do malho". Eis a questão: com os partidos sendo tratados ora como balcões de negócios, ora como posse de figuras supostamente ilustres, será possível reunir forças e escrever com todas as letras um outro destino para a vida partidária em Rio Preto, no Brasil?
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Se diante dos fatos realmente não há argumentos, tendo em vista os dados alarmantes, existirão condições objetivas na cidade para que os partidos se afirmem enquanto legítimas expressões da vontade coletiva de determinada classe ou setor de classe?
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A esquerda riopretense e especialmente a seção municipal do Partido Comunista Brasileiro (PCB) devem responder urgentemente a esta questão. E nem é preciso dizer porquê...

PELA EXTINÇÃO DO PERÍMETRO URBANO EM RIO PRETO [1]


Clayton Romano
Historiador - Membro do PCB-Rio Preto


A teoria também se transforma em uma força material quando se apodera das massas.
Karl Marx (1818-1883)



"115 campos de futebol ou quase 1 milhão de m2"

Deu no Diário
(19/9/2007): "O vereador Oscarzinho Pimentel (PPS) protocolou projeto de lei para alterar o zoneamento urbano de Rio Preto e integrar uma área de 960 mil metros quadrados, o equivalente a 115 campos de futebol, da empresa Costa e Brito Construtora e Incorporadora, no perímetro urbano do município".

Pelas contas do jornal, "de uma só vez Pimentel pretende acrescentar ao perímetro urbano uma área que representa quase 10% do total incluído nos últimos anos".

"Hoje a área integra a Fazenda Santa Helena", continua a matéria, "nas proximidades da Vila Azul, próximo à rodovia BR-153 bem no trecho que será reformulado e recuperado".

Ainda conforme o Diário, o "vereador alega na justificativa do projeto que o crescimento da área urbana de Rio Preto vai garantir 'o aumento de ofertas de imóvel urbanos na cidade, com a implantação de novos loteamentos'".

Com um detalhe: se aprovado, o projeto de Oscarzinho "transformará a área, atualmente classificada como 'zona 14' – agrícola –, em 'zona 4' permitindo a instalação de residências – casas e edifícios –, empresas comerciais e de prestação de serviço e também a atividade microindustrial".

"Procurado pela reportagem, Pimentel se recusou a comentar o projeto de lei", afirma o jornal.


Análise do problema

A repulsa e a indignação iniciais causadas pela notícia não devem impedir uma análise crítica – e um pouco mais aprofundada – sobre o problema, que, aliás, não é nada novo.

Há tempos e com freqüência maior que a estampada nos diários, esse discurso maroto de garantir "o aumento de ofertas de imóvel [sic] urbanos na cidade, com a implantação de novos loteamentos", preenche as páginas produzidas pelo Legislativo municipal. Além do emprego das palavras, cumpre notar que a diferença entre os projetos sempre esteve na forma.

Parte dos vereadores prefere atuar no varejo, com a inclusão de "pequenas" áreas ao perímetro urbano. Outros, como Oscarzinho, optam pelo atacado. Em comum, a mesma promiscuidade no exercício da função parlamentar – pública, diga-se – em favor de interesses privados financiados pelo capital imobiliário.

Por sua vez, o Executivo municipal utiliza-se espertamente da conhecida "tática de avestruz", cujo custo é impossível prever. E também neste caso a repercussão sobre o projeto de Oscarzinho mostra-se bastante didática.

Diz o Diário: "Apesar da magnitude da proposta do vereador, os secretários de Planejamento, Orlando Bolçone, e de Meio Ambiente, Humberto Scandiuzzi, desconhecem o projeto de lei. 'Em princípio, não teve nenhuma consulta dessa empresa para a inclusão da área', disse Bolçone. 'Não tenho conhecimento desse projeto nem da aprovação ou implantação de loteamento nessa área', afirmou Scandiuzzi".

Portanto, cabe às forças vivas e lúcidas da cidade assumir urgentemente a tarefa de dirigir, estimular e sistematizar alternativas programáticas ao atual estado de coisas. As linhas a seguir procuram sinceramente contribuir nesse sentido.


"Maldita realidade" e "grande sistema"

Rio Preto cresce em ritmo acelerado. Em apenas 6 anos, a população da cidade passou de 358.523 (2000) para 415.508 habitantes (2006); em números absolutos, são cerca de 57 mil pessoas a mais convivendo num espaço urbano cuja infra-estrutura e rede de serviços públicos nem de longe apresenta o mesmo nível de crescimento [2].

Nessas horas de análise crítica, os sussurros de Poliana sempre aparecem; nesse caso, eles informam que cidade já registrou índices demográficos mais agudos em outros momentos [3]. Contudo, para desespero dos metafísicos, a taxa de crescimento populacional ainda é significativa e a demanda não pára de crescer... "Maldita realidade!", exclamam.

Para se ter uma idéia – sem sair da questão imobiliária –, a quantidade anual de alvarás de construção aprovados no município saltou de 1.810 (2004) para 2.310 (2006) em apenas 2 anos (!); em 6, o total de imóveis catalogados pela Prefeitura passou de 130.189 (2000) para 161.327 (2006) construções prediais e comerciais em Rio Preto (BOLÇONE, O. org. Conjuntura Econômica de São José do Rio Preto. 22ª ed, 2007, p. 12).

Além de atestar a presença marcante da construção civil na economia da cidade, os números acima ajudam a entender melhor o "grande sistema" orquestrado pelos agentes imobiliários; ainda que os dados levantados revelem apenas a ponta do iceberg.

Observando o notável aumento no total de alvarás de construção aprovados pelo Executivo – ou mesmo a quantidade de trabalhadores absorvidos pela construção civil em Rio Preto [4] – é lícito deduzir que a especulação imobiliária corresponda a patamares equivalentes; afinal, seria realmente estranho – melhor dizendo, metafísico – imaginar um contexto de aquecimento econômico no ramo da construção civil sem que houvesse vestígio da sanha de construtoras e imobiliárias.

No entanto, seria oportunismo barato – para dizer o mínimo – acusar exclusivamente os agentes imobiliários pelo sucesso do "grande sistema". Marx ensina que a existência de qualquer sistema – do mais simples ao mais complexo – prescinde de outras tantas relações, estabelecidas entre si por outros tantos atores, em suas classes e setores sociais, segundo diferentes valores e interesses [5]. Logo, é com base no aprimoramento constante de tais relações que costumam surgir as condições ideais para a constituição de um novo sistema no interior de determinada sociedade.

Assim parece ser quando se analisa a função exercida pelos agentes envolvidos na trama do "grande sistema" imobiliário riopretense; aqui, três deles merecem destaque: "Imobiliárias e Construtoras", "Legislativo" e "Executivo".


Imobiliárias e Construtoras

A lógica é aparentemente simples e inofensiva: comprar área/terreno por valor menor e vender por preço maior. Tudo dentro "legalidade", com "papel passado" e "firma reconhecida".

No entanto, a questão é mais complexa e tem como eixo a própria natureza do Plano Diretor (PD) do município, que delimita o perímetro urbano da cidade [6]. Atualizado à revelia da razão administrativa mais elementar a cada sessão do Legislativo - desde sempre, diga-se -, o perímetro urbano é ao mesmo tempo uma linha imaginária, descrita nas páginas do PD, e uma peça de ficção, segundo a realidade dos fatos.

A linha imaginária está traçada com base em 214 pontos, também imaginários, e tem por finalidade orientar a "política desenvolvimento urbano", a "expansão urbana", o "ordenamento territorial" e o "processo contínuo de planejamento do Município", conforme o Artigo 1° da Lei Complementar (224/06) que rege atualmente o "Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável" de Rio Preto.

Na prática, porém, as palavras acima não passam de letra morta da lei; e basta uma rápida pesquisa nos jornais para se comprovar isso [7]. Ao contrário da "sustentabilidade econômica, social e ambiental" preconizada como objetivo pelo PD, na maioria das vezes o "Desenvolvimento Sustentável" experimentado cotidianamente pela cidade obedece a critérios impublicáveis, via-de-regra pautados pela busca incessante do lucro fácil [8].

Aproveitando-se da brecha entre lei e realidade com uma malandragem característica, os agentes imobiliários – aqui genericamente reunidos sob designação "Imobiliárias e Construtoras" – saem a campo e promovem a completa degeneração das intenções originais do PD. Grosso modo, é possível destacar ao menos três comportamentos distintos experimentados pelos agentes, aqui denominados: "loteador", "especulador" e "empreendedor".

O "loteador" aposta suas fichas na secular exclusão das camadas populares em relação ao mundo dos direitos para criar uma "outra cidade", paralela, irregular, clandestina, ilegal. Ele compra áreas fora do perímetro urbano, dividindo-as em lotes vendidos sem escritura. Ludibriados pelo negociante, sem maiores noções jurídicas ou cartorárias e prestes a realizar o "sonho" da casa e/ou terreno próprios, os populares acabam cedendo frente ao termo de compra e venda oferecido como garantia de posse pelo "loteador"; assim surgiram mais de 100 loteamentos irregulares em Rio Preto [9]. Traço que é seu, este "tipo" de agente imobiliário costuma agir à margem do poder público.

Por sua vez, protegido pela fachada jurídica e impessoal de imobiliárias e empresas afins, o "especulador" exibe maior capacidade de relação e promiscuidade com o poder público; possui representantes no Palácio 19 de Julho e chega até a despachar do interior do Paço Municipal. Assim como faz o "loteador", o "especulador" também compra áreas fora do perímetro urbano. Mas seu lucro não advém tão espontaneamente, tal como ocorre com o "loteador". É preciso boa dose de cálculo e racionalidade para converter um terreno "rural" em área pertencente ao perímetro urbano; numa palavra, é preciso lidar com o incerto – do ponto de vista da iniciativa privada – mundo da política e dos políticos. Quando não é possível ter seu "próprio" vereador, o "especulador" lança mão de vultosas cifras – isto é, reduz a própria margem de lucro prevista com a transação – para corromper os parlamentares e assim incorporar novas áreas ao perímetro urbano do município. Uma operação arriscada, mas com altos índices de aproveitamento, diga-se.

Por fim, o "empreendedor" pode assumir as mais diversas fisionomias. Vai desde o humilde e esforçado serralheiro – que, pressionado pela "fiscalização", precisa urgentemente enquadrar sua oficina de fundo de quintal na Lei de Zoneamento –, até o pool de construtoras, reunidas para o lançamento de um mega empreendimento qualquer [10]. Semelhante ao "especulador", o "empreendedor" também necessita de relações privilegiadas com o poder público, por isso não é raro vê-los atuar em parceria. O primeiro interessado na valorização de suas posses; o segundo na expectativa de que a Prefeitura realize as obras de infra-estrutura – aberturas de ruas e avenidas [11], pavimentação, eletrificação, rede de água e esgoto, etc. –, indispensáveis em qualquer empreendimento imobiliário. Em comum, uma única bandeira: todos em favor do alargamento – ou seria "retalho" mesmo? – do perímetro urbano.


Legislativo

Toda a sorte de contradições originadas pelos agentes imobiliários deságua na Câmara Municipal. Portanto, para evitar conclusões apressadas, convém seguir a sabedoria popular e separar o joio do trigo.

Não é verdade que todos os vereadores de Rio Preto são permeáveis ao "grande sistema" gerido pelo capital imobiliário. Em boa medida, existe até certa “tradição” de combate ao "retalho" do perímetro urbano no Legislativo municipal. Porém, tendo em vista a freqüência com que as alterações são aprovadas na Casa, tudo leva a crer que tal "tradição" é mesmo minoritária entre os parlamentares.

Sem pretender generalizar, mas considerando o comportamento – e o posicionamento em plenário – da maioria dos vereadores, o fato é que a Câmara Municipal há tempos se converteu num instrumento privilegiado – indispensável até – para a concretização dos interesses venais dos agentes imobiliários. Atualmente, tal promiscuidade revela novas modalidades de "clientelismo", todas reguladas segundo o "mercado da política" [12].

De fato, as relações de "clientelismo" estabelecidas a partir do Legislativo envolvem os mais diferentes setores e classes sociais da cidade. Observando os corredores da Câmara se percebe quão heterogênea é a face do "cliente" que se pretende criticar. Lá, angústia e astúcia se cruzam entre olhares sempre desconfiados. Contudo, os "clientes" possuem sim uma característica comum: todos tratam aquele espaço como um lugar destinado aos "negócios", cujo objetivo final é "levar vantagem em tudo", tal como reza a lei de Gérson [13]. Assim, qualquer princípio ou demanda política é logo concebido como uma mercadoria a mais naquele estranho "mundo de negócios".

Tratada como produto por seus protagonistas, a Política passa a atender então às regras e procedimentos extraídos desta experiência original de capitalismo popular vigente no país. E tal como ocorre com o trabalho na economia capitalista, a Política aqui – isto é, no Brasil e, especificamente, em Rio Preto, na Câmara Municipal – tem suas leis ditadas pelo "mercado"; em outras palavras, "o processo de produção [política] passou a dominar o homem, ao invés de ser dominado por ele" (MARX, K. Apud. KONDER, L. 1998, p. 139).

O alto custo das campanhas eleitorais amplia consideravelmente a gravidade da situação, bem como ajuda a explicar parte dela. Com orçamentos cada vez menos modestos – por um lado, graças à propaganda veiculada na TV, cuja produção é realmente cara; por outro, devido à alta progressiva no "valor de compra" do voto, também chamado de "custo-voto" [14] –, as campanhas eleitorais têm exigido de seus participantes um montante cada vez maior de recursos e levado muitos dos postulantes aos cargos eletivos a adotar comportamentos e estabelecer compromissos nada ortodoxos do ponto de vista do interesse público. Daí que boa parte dos posicionamentos que serão assumidos ao longo de determinado mandato seja definida durante o processo eleitoral, a partir dos acordos firmados com apoiadores e financiadores. Desnecessário dizer que, via-de-regra, a maioria da soma arrecadada não aparece na prestação de contas do candidato; primeiro, para ninguém se comprometer publicamente, e depois, porque em alguns casos o financiamento e/ou ajuda tem origem obscura.

Logo, não é preciso mesmo muito esforço para constatar a "facilidade" encontrada pelos agentes imobiliários no trato com os políticos, especialmente, com os vereadores. Elo mais frágil de uma corrente institucional de resto já orientada pelo "mercado da política", a Câmara Municipal não oferece maiores resistências à presença do capital [15] circulando por seus corredores. Lá, onde "cliente" e "fiador" se encontram na sala do cafezinho, o vereador deixa de corresponder à premissa elementar de ser o representante dos anseios mais imediatos e agudos da maioria da população para se converter em mero instrumento de efetivação de interesses orientados ora por seus "clientes", ora por seus “fiadores” – ou "credores", o que dá no mesmo.


Executivo

Nenhuma relação que tenha a magnitude do "grande sistema" imobiliário riopretense seria exeqüível, do ponto de vista operacional, sem a conivência e/ou participação do Poder Executivo local. No caso de Rio Preto, o Executivo municipal responde tanto por conivência, como por participação direta no “grande sistema” gerido pelos agentes imobiliários.

Dois exemplos distintos e recentes confirmam isso.

Como mencionado no início, as palavras "oficiais" do Poder Executivo sobre o "retalho" proposto pelo vereador Oscarzinho Pimentel (PPS) demonstram claramente a omissão da Prefeitura; justamente ela, interessada e principal responsável em garantir a realização plena do Plano Diretor do município, particularmente no que se refere ao "Desenvolvimento Sustentável" da cidade e de seus cidadãos. Vale a pena relembrar as vozes recentes do Executivo sobre a inclusão de 115 campos de futebol ao perímetro urbano de Rio Preto: "Em princípio, não teve nenhuma consulta dessa empresa para a inclusão da área", disse Orlando Bolçone, secretário municipal de Planejamento, quando questionado sobre o projeto de Pimentel. Ora, mas são 960 mil metros quadrados! "Não tenho conhecimento desse projeto nem da aprovação ou implantação de loteamento nessa área", afirmou o secretário municipal do Meio Ambiente, Humberto Scandiuzzi (In. DIÁRIO DA REGIÃO. Retalho de 960 mil metros quadrados (19/9/2007). Disponível em: Diarioweb. Acesso em: 20 set. 2007).

Por outro lado, não é só com atitudes deliberadamente omissas e reticentes que o Executivo tem se relacionado com as questões imobiliárias; haja vista a sempre problemática cessão de áreas do município a entidades supostamente filantrópicas, por exemplo [16]. Em muitos casos, o próprio Executivo é o proponente legal da inclusão de áreas "rurais" no perímetro urbano do município, em detrimento do respeito e execução de seu Plano Diretor.

Em maio deste ano, o Diário denunciou a incorporação de 38,61 alqueires ao perímetro urbano. De autoria do Executivo, o projeto de lei complementar 8/2006 pretendia agregar esta área localizada na divisa com Bady Bassit à outra, de 17,69 alqueires – "já incluída no perímetro urbano em 2004" –, para que juntas pudessem abrigar a "construção de um condomínio fechado com campo de golfe", dizia a reportagem. Ora, mas um campo de golfe? Sim, "campo de golfe profissional, único em toda região noroeste do Estado de São Paulo", exaltava a matéria-denúncia do jornal. Definitivamente, golfe não é o esporte preferido das massas; logo, o projeto de lei do Executivo contemplava a outros interesses, mais próximos dos agentes "empreendedores", dentre os quais, construtoras e imobiliárias (IBORUNA21. Quem ganha com isso?, 7/5/2007). E para comprovar de que não se trata de algo extemporâneo, vale citar aqui outra manchete do Diário sobre o mesmo caso, esta do mês passado: "Câmara vota pedido de Edinho para anexar zona rural à cidade" (DIÁRIO DA REGIÃO. 18/8/2007. Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 20 set. 2007).

Contudo, não se vê por parte da Prefeitura igual presteza, agilidade e disposição quando se trata de incorporar ao perímetro urbano qualquer um dos 108 loteamentos irregulares existentes em Rio Preto. Todos os casos são tratados pelo Executivo municipal obedecendo-se o máximo rigor da lei; não que não se deva, mas o tratamento rigoroso verificado na questão loteamentos irregulares é simplesmente dispensado quando o assunto diz respeito aos interesses do capital imobiliário. Também pudera – argumenta a lógica dos administradores municipais –, pois, enquanto a inclusão de áreas pertencentes a construtoras e imobiliárias projeta consideráveis volumes de investimento na economia e, por conseguinte, de receita aos cofres do município, a regularização dos loteamentos, por sua vez, implica em assumir as responsabilidades inerentes ao poder público prestador de serviços, exigindo do Poder Executivo uma presença física naqueles loteamentos, com a realização de obras de infra-estrutura e ampliação da rede de atendimento.

É a reiterada opção da Prefeitura em favor dos agentes imobiliários – em detrimento de milhares à margem do mundo dos direitos, diga-se – que a torna um dos entes responsáveis pela vigência do "grande sistema" do gerido pelo capital imobiliário presente na cidade.


Pela extinção do perímetro urbano em Rio Preto

Quando se afirma aqui a existência em Rio Preto de um "grande sistema" imobiliário não se pretende superdimensionar a capacidade econômica da cidade; ao contrário, busca-se denunciar a extensão do problema referente à ocupação do espaço no município. Do mesmo modo, ao se identificar os atores principais dessa trama, vislumbra-se a possibilidade de análise crítica sobre um aspecto importante da realidade local, sem que seja necessário recorrer ao sectarismo infantil ou mesmo ao oportunismo barato. Portanto, trata-se de uma reflexão substantiva que, para ser total, deve também propor caminhos.

Gramsci ensina que "a formação de um bloco histórico, isto é, de um modelo político-cultural abrangente pelo qual as elites dirigentes [procuram] exercer influência e poder na sociedade, começa propriamente no terreno das ideologias, ou seja, na esfera em que os homens (as classes) tomam consciência da sua realidade". Em outras palavras, significa dizer que não basta apenas a existência de condições infra-estruturais – econômicas, materiais – propícias para que se efetue o completo estabelecimento de um "sistema"; neste caso, sua efetivação e legitimidade seriam garantidas tão somente por métodos coercitivos. A tese gramsciana, porém, alerta para o fato de as sociedades inseridas nos marcos da economia capitalista e da democracia liberal – tal como ocorre no Brasil e, de modo monográfico e específico, em Rio Preto – exigirem a constituição "de um modelo político-cultural abrangente" como prerrogativa indispensável à afirmação de determinada hegemonia, numa "relação dialética entre infra-estrutura e superestrutura". Daí que a eficácia de dado "sistema", "regime" ou "hegemonia" em solo ocidental exija "combinar o uso de coerção com consentimento" (MOISÉS, J. A. Os brasileiros e a democracia. São Paulo: Ática, 1995, p. 89-90).

No caso do "grande sistema" imobiliário, a tese de Gramsci permite identificar a profundidade do problema. Em boa medida, é possível admitir que a constante violação do perímetro urbano não se sustenta apenas com base nas ações dos agentes imobiliários, como se estas fossem desconectadas do conjunto da sociedade; ao contrário, de tão sólidas, está claro que tais ações são respaldadas e de certo modo alimentadas pela própria sociedade. Logo, alterar o sentido das relações com o capital imobiliário implica em transformar a própria cultura política da cidade; eis o real desafio.

Assim, não basta propor a revogação do Artigo 72 da Lei Complementar 224/06, que regulamenta atualmente o PD, e extinguir o perímetro urbano de Rio Preto. Também é preciso estabelecer as bases da formação destinada à opinião pública e dos setores mobilizados para a defesa e execução da medida.

Acabar com os 214 pontos imaginários previstos no Anexo n° 01 da LC 224/06 significa reconhecer de vez todos os 431,30 km2 de extensão do município como perímetro urbano da cidade e superar enfim a versão oficial e ficcional de "apenas" 103,05 km2 como "área urbana" de Rio Preto. Ora, os 108 loteamentos irregulares não contam?

Acabar com a "metafísica" do perímetro urbano requer a mobilização dos seguimentos e organizações mais conscientes da cidade, pois, uma vez encerrada a cisão entre rural e urbano, o coração do "grande sistema" imobiliário riopretense deixará imediatamente de pulsar e a reação dos agentes será presumidamente furiosa.

Por isso, a extinção do perímetro urbano de Rio Preto não se resume no gesto de revogação de um artigo, de um anexo ou de uma lei; devendo ser concebida então como um movimento democrático, a ser assumido por todos aqueles que percebem e vivenciam o caráter nefasto da postura de submissão e conluio do poder público – Legislativo e Executivo – com o capital imobiliário.

Tampouco a extinção poderá ser conduzida pelos mesmos agentes que ora pactuam com os interesses imobiliários. Primeiro, porque se a medida não for conduzida com senso de responsabilidade e ética pública, o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro; isto é, se comandado pelos atores atuais, o anúncio sobre o fim do perímetro urbano pode gerar uma especulação imobiliária sem precedentes e de conseqüências por ora inimagináveis. Depois, porque a adoção de todo território como área urbana pode estimular ainda mais a ocupação desordenada do solo, incidindo, inclusive, sobre matas nativas e ciliares.

Portanto, a integral implementação da medida exige a presença de novas e arrojadas forças na condução deste processo, a ser convertido em ponta de lança de uma legítima transformação nas relações econômicas, políticas e culturais estabelecidas na cidade.


A posição dos comunistas

Detentores de extensa tradição nas lutas democráticas e populares na história do país e da cidade, os comunistas de Rio Preto devem assumir desde já a campanha pela extinção do perímetro urbano no município, empreendendo esforços imediatos para sua mais ampla difusão e massificação.

A partir do PCB - Partido Comunista Brasileiro -
, sua original e legítima expressão partidária, os comunistas devem validar sua inserção nos diferentes segmentos sociais, estimular o debate, explicitar contradições e, sobretudo, orientar a formação do movimento democrático pela extinção do perímetro urbano em Rio Preto; sem abdicar, no entanto, de suas funções pedagógicas – do ponto de vista político – e formar todos os sujeitos engajados nesta luta.

Pautados pela construção de uma sociedade justa e igualitária, os comunistas devem assumir a tarefa de constituição de uma frente ampla e democrática, reunindo sob a bandeira da extinção do perímetro urbano outros partidos, sindicatos e organizações comprometidos com os interesses populares e dispostos a lutar em favor da maioria; eis a luta imediata.

Pela revogação do Artigo 72 da Lei Complementar 224/06 e fim do Anexo n° 01!

Por um movimento democrático pela extinção do perímetro urbano em Rio Preto!


Notas

[1] Texto originalmente apresentado ao Comitê Municipal do Partido Comunista Brasileiro de São José do Rio Preto (
PCB-Rio Preto), em 23 de setembro de 2007.

[2] Entre 2000 e 2006, Rio Preto registrou um crescimento demográfico de 2,5%; na prática, 56.985 novos habitantes. Em contrapartida, serviços públicos essenciais apresentam reduções drásticas em seus números. Eis alguns exemplos: a) o total anual de passageiros atendidos pela Circular Santa Luzia (detentora de mais de 90% das linhas de ônibus urbano) passou de 32.329.447 (2001) para 26.825.407 (2006); b) o número médio de unidades públicas e privadas de saúde atendidas por coleta, tratamento e transporte de resíduos também caiu: de 545 (2004) para 346 (2006). E pior: segundo a Vigilância Sanitária existem "aproximadamente 1.800 estabelecimentos geradores cadastrados", ou seja, apenas 19,22% de unidades de saúde contam coleta de lixo médico-hospitalar em Rio Preto; c) redução de quase 7 toneladas (6.929,32) de lixo residencial e comercial coletado: 115.009,31 (2004) contra 108.079,99 toneladas (2006); d) na área educacional foi reduzido consideravelmente o número de alunos atendidos em período parcial: de 9.389 (2000) para 5.380 (2006). Na educação integral, o total de alunos atendidos permanece estagnado desde 2004 (7.167), registrando leve queda entre 2005 (7.798) e 2006 (7.712); e) a educação de jovens e adultos regride ano a ano desde 2001, quando atendeu 4.101 pessoas, com pico de 3.856 em ano de reeleição municipal (2004). Ano passado, o EJA municipal atendeu apenas 2.468 alunos; f) entre 2004 e 2006, o número de pessoas atendidas pelo Programa Saúde da Família teve uma queda acintosa: de 88.262 para 35.174. Cf. BOLÇONE, O. (org.)
Op Cit, p. 15, 17, 28, 29, 38, 75, 79 e 81.

[3] Em 1980, à época com 188.601 habitantes, Rio Preto assistia sua população crescer a uma taxa média anual de 4,25%. Desde então, os índices seguem uma trajetória descendente: 3,76% (1991), 2,65% (1996), 2,60% (2000).
Ibidem, p. 18.

[4] A "Indústria da Construção Civil" emprega atualmente 10% da População Economicamente Ativa (PEA) de Rio Preto, com 19.903 trabalhadores registrados. "Prestação de Serviços" (23%), "Comércio de Mercadorias" (19%), "Indústria de Transformação" (16%), "Social" (11%), "Transporte e Comunicação" (5%), "Serviços Auxiliares de Atividade Econômica" (4%), "Administração Pública" (4%), "Outras Atividades" (4%), "Agropecuária, Extração Vegetal e Pesca" (3%) e "Outras Atividades Industriais" (1%) compõem o quadro da PEA riopretense.
Ibidem, p. 25.

[5] De acordo com os termos da teoria marxista do conhecimento, relação é algo que "engloba os objetos relacionados numa totalidade e nova unidade; num sistema de conjunto dado precisamente pela relação que vem a ser a disposição sincrônica e diacrônica dos mesmos objetos, pela posição espacial e sucessão temporal respectiva de cada um com respeito aos demais e da totalidade que, relacionados, eles constituem... Nisto consiste a relação; e nessa perspectiva que, na operação de relacionamento (isto é na determinação de relações) se hão de visualizar as feições e situações da Realidade considerada". PRADO JR, C. Teoria Marxista do Conhecimento e o Método Materialista Dialético. In. Discurso – Revista do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ano IV, n° 4, pp. 41-78, 1973. Disponível em:
PCB-Rio Preto. Acesso em: 20 set. 2007.

[6] Diz o PD, em Lei Complementar (224/06), Título VI (Perímetro Urbano), Artigo 72: "O perímetro urbano do Município de São José do Rio Preto é o definido no Anexo nº 01, parte integrante desta Lei Complementar". Já o referido anexo consiste num "Memorial descritivo" de 214 pontos distribuídos no distrito de Rio Preto, outros 30 em Engenheiro Schmitt e mais 9 no distrito de Talhado, todos delimitando os respectivos perímetros urbanos. Cf. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, P. M. Plano Diretor. Disponível em:
Prefeitura de Rio Preto. Acesso em: 20 set. 2007. Mas a questão tem também raízes mais profundas. Segundo escreveu a historiadora Nilce Lodi, em artigo publicado no início do ano, a "história de Rio Preto tem sua cronologia confundida com a própria origem do seu perímetro urbano a partir de meados do século 19, que foi o primeiro povoamento urbano no distante bairro do município de São Bento de Araraquara". In. DIÁRIO DA REGIÃO. Expansão Urbana de Rio Preto 1852-2000 (23/3/2007). Disponível em: Diarioweb. Acesso em: 20 set. 2007.

[7] Por exemplo: o sistema de busca no arquivo de notícias do Diário apresenta os seguintes textos para a palavra-chave "loteamento", além do
Retalho de 960 mil metros quadrados de Oscarzinho, é claro: Traquinagem na Câmara (Editorial, 23/8/2007), Câmara aprova isenção de IPTU nos Aufervilles (22/8/2007), Câmara vota pedido de Edinho para anexar zona rural à cidade (18/8/2007), Transferência do IPA já gera especulação imobiliária (11/7/2007), Justiça suspende loteamento Estância Cavalari (7/4/2007), Justiça manda Grupo Aufer devolver dinheiro de terreno (4/4/2007), Loteamentos irregulares aguardam aprovação (25/1/2007), dentre outros.

[8] Para Marx, "a fonte básica do valor não é a circulação do dinheiro e sim o trabalho humano. A força de trabalho possui este dom especial de, conservando o valor das matérias primas, ainda ampliar o valor do produto, depois de pronto... Uma coisa, porém, é certa: 'toda mais-valia – seja qual for a forma específica em que se cristalize (lucro, juros, renda, etc.) – é sempre, substancialmente, a materialização de tempo de trabalho não pago'". In. KONDER, L. Marx – Vida e Obra. São Paulo: Cromosete, 1998, p. 134-137.

[9] Atualmente existem 108 loteamentos irregulares em Rio Preto. Embora este número esteja "congelado" desde 2001/2002, na prática, pouco ou quase nada foi feito para regularizar a vida dos milhares de moradores dos loteamentos espalhados pela cidade. Quando são finalmente organizados, os processos de regularização esbarram nos morosos trâmites judiciais; enquanto isso, a população dos loteamentos irregulares segue às escuras, em muitos casos, literalmente.

[10] Em maio deste ano, o Executivo apresentou projeto de lei incluindo de 38,61 alqueires ao perímetro urbano. A área fica localizada na divisa com Bady Bassit e deverá abrigar a construção de um “condomínio fechado com campo de golpe”. A iniciativa tem um investimento estimado em R$ 15 milhões e reúne "J. Hawilla, Praterra, Flagro Empreendimentos e Participações, Anfab Empreendimentos, Cipasa Desenvolvimento Urbano, Verdade Empreendimentos Imobiliários, e por aí vai". In. IBORUNA21. Quem ganha com isso? (7/5/2007). Disponível em:
Iboruna21. Acesso em: 20 set. 2007.

[11] Basta ver exemplo da "urbanização" ao redor do Complexo Dhama e condomínios vizinhos, às margens do 3° espelho da Represa Municipal.

[12] Atualmente, a noção de "mercado da política" vem sendo utilizada com bastante freqüência em estudos políticos. Referindo-se especificamente ao PT, por exemplo, Juarez Guimarães afirma: "A crise do petismo revela também o enfraquecimento dos valores de uma ética pública e a capacidade de agenciamento do que poderíamos chamar de ‘mercado da política’ em sua cultura". In. CHAUÍ, M. (et alii) Leituras da Crise – Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo. São Paulo: Perseu Abramo, 2006, p. 203.

[13] "... Os malandros passaram a fazer parte do imaginário de um país de alma escravista como uma espécie de resistência ao modelo europeu cheio de regras. Era astuto, esperto e vivia de 'expediente', como se dizia na época, e, mais do que tudo, sabia dar um 'jeitinho' em tudo. Ganhava dinheiro fora das formas oficiais, jogando bilhar, apostando em cavalos e, em alguns casos, sobrevivendo na gigolagem. Com o passar dos anos, o malandro despencou cada vez mais para a contravenção, mas o folclore do jeitinho já havia marcado definitivamente o caráter nacional. Sua expressão mais agressiva vai desembocar na década de 70, tendo como marco o comercial do cigarro Vila Rica. Era um momento em que se pensava o nacionalismo em parâmetros bem diferentes dos anos 20. Havia um orgulho verde-amarelo e uma megalomania alimentada pela ditadura. Nesse contexto, um herói nacional como o tricampeão Gerson solta sua frase mais famosa. 'Você gosta de levar vantagem em tudo, certo?' A propaganda não teve uma interpretação pejorativa na época, mas depois virou lei ...". Para a historiadora Maria Ilza Matos, a "lei de Gerson funcionou como mais um elemento na definição da identidade nacional e o símbolo mais explícito da nossa ética ou falta de ética". In. ISTOÉ. Lei de Gérson. n° 1578 (29/12/1999). Disponível em:
Istoé. Acesso em: 20 set. 2004.

[14] Embora o horário reservado à propaganda eleitoral nas redes de TV aberta seja gratuito, a produção do material exibido na telinha consome vultosas cifras com a contratação de pessoal técnico especializado, tais como agência de publicidade – ou de marketing político –, produtora de vídeo, assessoria de imprensa, atores, etc. Por sua vez, a equação "custo-voto" corresponde ao capital investido numa campanha, dividido pela quantidade de votos recebida por determinado candidato. A equação pode se referir tanto ao valor total destinado em ações de convencimento – material gráfico e visual; jingles; equipe de comunicação e propaganda; logística; reuniões, encontros e comícios; etc. –, como à "compra" do voto propriamente dita. Neste caso, a perda de significado histórico do "voto de cabresto" incide hoje na adoção de um comportamento peculiar do eleitor em relação ao seu voto. Talvez no único instante em que exerce de fato seu "poder" de escolha, o eleitor tem reiteradamente levado seu voto a leilão, sob a lógica do "quem der mais, leva", "inflacionando", por assim dizer, o custo do voto. Sem dúvida, este é o resultado real e perverso do império das leis de mercado no mundo da política.

[15] Não é apenas o capital imobiliário que se aproveita da vigência das leis de mercado na Câmara Municipal para fazer valer seus interesses em plenário. Meses atrás, a imprensa divulgou – enfim – que a Circular Santa Luzia, concessionária majoritária das linhas do transporte urbano da cidade, costumava "alugar" barco de sua propriedade para que vereadores riopretenses "curassem o estresse" no Pantanal. Diz textualmente o Diário, ao cobrir as férias dos edis, em julho: "Ao contrário de anos anteriores, os vereadores não utilizaram o barco de propriedade da Circular Santa Luzia e alugaram o navio-hotel Comodoro, que tem capacidade para até 24 pessoas". In. DIÁRIO DA REGIÃO. Vereadores curam estresse em barco de luxo no Pantanal (10/7/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 20 set. 2007.

[16] A polêmica recente com a Missão Atos é bastante ilustrativa. Beneficente, em 2002 o governo Edinho Araújo doou à nebulosa entidade comandada por Mazza de Lima uma área de aproximadamente 28 mil metros quadrados, avaliada em torno de R$ 3 milhões. No início do ano, a reportagem do Diário constatou desvio de finalidade praticado no uso da área, transformada em salão de festas, então alugado pela entidade para cobrir os custos dos "projetos sociais" mantidos pela ONG. Inicialmente, o Executivo até tentou se justificar: "diversas entidades fazem isso". Depois, diante da repercussão – negativa – do caso, Edinho recuou e passou publicamente a exigir a devolução da área, hoje reintegrada ao patrimônio público. In. IBORUNA21.
Transações (1/5/2007) e Ilegal e imoral (3/5/2007).

Rio Preto, 23 de setembro de 2007.

"QUALÉ" A DO MANÉ (E A DO PT)?


Clayton Romano
Historiador - Membro do PCB-Rio Preto


Deu na Coluna do Diário (14/10): "O sonho do PT em se aliar a Manoel Antunes (PSB), e vice-versa, acabou".

De acordo com a Coluna, assinada por Alexandre Gama, após "um período de intensas negociações, quando o presidente petista, Aílton Bertoni, se sentou para conversar com Mané e com o cacique Valdomiro Lopes (PSB), o assunto esfriou e hoje não existe mais dentro do PT qualquer sentimento de que a aliança com o ex-prefeito e pré-candidato vá se consolidar".

Para os petistas, eis o "x" do problema: "O Mané não articula, vai deixando solto e não acerta nada. Não podemos ficar na incerteza", diz Bertoni à Coluna. "Do jeito que ele está agindo, sem se movimentar", continua o petista, "parece que está querendo ser vice de alguém. Se quiser ser vice do Marco Rillo, aceitamos", provoca.

Está certo. Mané não é mesmo um "político profissional" na acepção atual do termo; sua formação e trajetória políticas remontam um tempo que realmente já se foi.

Formado em Letras Neolatinas pelo IBILCE (1962), o professor Manoel Antunes surgiu para a vida publica na década de 1960, quando foi presidente da Liga Rio-pretense de Futebol (1962-1968), "fortalecendo os campeonatos amador e varzeano da cidade, além de ter criado novos campeonatos" (
ARANTES, 2002, p. 277).

Em 1972, no auge da repressão política do Regime Militar (1964-1985), Mané foi eleito vereador. Reeleito em 1976 e presidente da Câmara Municipal de 1979 a 1980, o "Português" também foi diretor regional dos Correios entre 1974 e 1975. Em 1982, nas primeiras eleições diretas para o poder Executivo (estadual e municipal) em 17 anos, Mané saiu da Câmara direto para a Prefeitura.

Na oportunidade, a eleição de Manoel Antunes expressou o sutil desejo de mudança da sociedade riopretense ante a abertura política desenhada nos grandes centros urbanos do país. Daí que Mané tenha contado com o apoio de setores populares e de esquerda, inclusive, do então clandestino PCB, sob a batuta de
Antonio Roberto de Vasconcellos [1].

Aqui, Mané inaugurou a chamada "era" peemedebista (1983-1996) e se tornou o prefeito eleito com mais tempo no Executivo; ao todo 10 anos em dois mandatos (1983-1988 e 1993-1996), intercalados pela gestão de seu vice, Antônio Figueiredo de Oliveira, sua mais perversa "criação" (1989-1992).

Mané também consagrou um estílio próprio de administrar. Quem nunca ouviu falar dos lendários bilhetes do Mané, com as cores das canetas indicando de modo subliminar o parecer do prefeito para cada solicitação? Além do folclore político, tais bilhetes alimentavam e traduziam uma forma de se fazer política, revelando, sobretudo, o acesso direito do povo com seu governante, numa relação sem intermediários individuais (assessores, por exemplo) ou coletivos (partidos e etc).

Não custa lembrar que tal procedimento remete ao trabalhismo dos anos 50 e 60 (período de "formação política" de Manoel Antunes), asfixiado durante a ditadura e retomado em "bases democráticas" pelo PMDB no curso da "Nova República", ainda que PTB e PDT reclamassem para si a herança trabalhista.

Na prática, o trabalhismo representava a tentativa de conciliação entre capital e trabalho, sob a égide do Estado (este concebido enquanto agente formador e propulsor da sociedade), pautada na supressão dos conflitos em prol de uma tal "paz social". Confiando em líderes e com forte apelo popular, o trabalhismo foi denunciado como populismo por dezenas de analistas; inclusive pelos petistas, que nasceram recusando qualquer vinculação com os trabalhistas, seus partidos ou sindicatos, chamando-os então de "pelegos".

E assim, ainda que as principais obras de Mané estivessem "relacionadas diretamente com habitação, saneamento básico e educação" (Ibidem, p. 278), nítidas demandas populares, o PT de Rio Preto fez oposição aos dois mandatos do ex-prefeito. Nada de mais, afinal, os petistas fundavam sua prática política em moldes diferentes daqueles empregados por Mané, explorando os conflitos entre capital e trabalho, apostando na autonomia da sociedade em relação ao Estado.

No entanto, o PT não via (ou não queria ver) que o "estilo" popular de Mané contrariava a realização plena dos mais íntimos interesses da elite econômica da cidade (o "Português" não concedeu os "incentivos fiscais" exigidos por Kaiser e Goodyear, por exemplo); a mesma elite que apoiou Liberato Caboclo (PDT-PFL), em 1996, e se dividiu entre o retorno ao "estilo" de Mané (então no PFL) e o incerto "jeito" de Edinho, em 2000 (incerteza, diga-se, motivada pela presença do PT na "Frente Porgressista").

Com o "Governo Progressista" em curso, a elite econômica logo se encantou com o "jeito" nada popular de Edinho e hoje lhe move mundos e fundos. O PT se deu conta disso no meio do jogo e, por isso, foi expulso da partida (petistas seduzidos pelo canto de sereia da elite permaneceram no barco governista; alguns ainda continuam lá).

Desde 2004, os petistas sabem que Mané é o único ator com capital eleitoral suficiente para vencer Edinho, basta rebobinar os vídeos daquele 2° turno. Por que raios então somente agora o PT reclama do "amadorismo" do "Português"? A cidade inteira sabe disso; há décadas...

A questão é outra. Será possível vencer o projeto articulado pelos "profissionais" Edinho, Vaz e Garcia sem unificar os focos de oposição, numa frente ampla, em torno de Manoel Antunes? Eis o real custo-benefício a ser analisado pelos petistas.

E se o PT tem certa razão em apontar o "amadorismo" de Antunes como a causa de mais uma provável derrota, por outro lado, deveria avaliar também sua própria abstenção em organizar e dirigir a reunião de todos os partidos, organizações e personalidades contrários ao governo Edinho Araújo (PPS).

Infelizmente, não se trata de uma questão ideológica, uma vez que Mané nunca foi de "direita" ou de "esquerda" (e, talvez, isso explique a facilidade com que o "Português" se filiou ao PFL, disputando e perdendo duas vezes para Edinho, em 2000 e 2004, e depois ao PSB). Trata-se, porém, de elaborar e estabelecer uma alternativa popular à cidade, com chances - remotas - de bater o projeto elitista e profissional da trinca Edinho-Vaz-Garcia, confiando ao Mané a cabeça da chapa.

Caso contrário, Mané e PT assumirão de véspera a derrota e darão aval à fragmentação da oposição e à multiplicação de candidaturas, criando assim o cenário dos sonhos para os "profissionais", que, note-se, estão reunidos numa "frente".

Afinal, "qualé" a do Mané? E a do PT?

NOTA

[1] O recém-criado Partido dos Trabalhadores de Rio Preto lançou a chapa José Carlos da Costa Bueno (prefeito) e Ademar Bartolomei (vice) e amargou o último lugar na disputa de 1982. Em 1988, o PCB "rompeu" com o PMDB - leia-se Toninho - e concorreu com Liberato Caboclo, que terminou como o 4° mais votado; o PT saiu com José Carlos Lopes (prefeito) e Romildo Sant'Anna (vice), ficando na penúltima colocação. Quatro anos depois (1992), enfrentando a maior crise em 80 anos de existência e já sem personalidade jurídica, o PCB cindiu-se entre Mané (PMDB) e Caboclo (PDT). Vasco ficou com o "Português"; os criadores do PPS apoiaram a frente de partidos organizada por Caboclo (PDT-PSDB-PT-PV). A frente seria reeditada em 1996, com Marco Rillo (prefeito) e Silas Tiepo (vice), sem PSDB (que optou por Marcelo Gonçalves, PTB) e sem Caboclo, que seria eleito por uma hetedoroxa aliança com o PFL e pagaria caro por isso... Em 2000, a frente persistiu, mas com os novos atores Edinho Araújo (PPS) e Maureen Cury (PT) e, até hoje, PT e PPS pagam caro por isso... No último pleito (2004), o PT lançou o ex-vereador Eduardo Nicolau, que ficou na 3ª colocação, e o PCB apoiou a ex-secretária da Assistência Social de Caboclo, então vereadora Regina Chueire (PDT). Regina terminou à frente apenas de Daniel Caldeira (PV).

> LEIA NA ÍNTEGRA A COLUNA DO DIÁRIO: SEM CHANCE
(14/10/2007).

* Texto originalmente publicado no IBORUNA21 (
19/10/2007).