"INDIFERENÇA" E "INFIDELIDADE" PARTIDÁRIA EM RIO PRETO


Clayton Romano
Historiador - Membro do PCB-Rio Preto

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Os números da pesquisa Ibope sobre a preferência partidária em Rio Preto, publicados no Diário de
ontem (3/11), revelam aquilo que, na prática, a cidade há tempos já sabia... Aqui, como em outros tantos rincões deste país continental, o personalismo é ainda a forma predominante nas relações políticas e os partidos são seu principal instrumento.
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Durante a primeira quinzena de outubro, o instituto de pesquisa ouviu 406 riopretenses (196 homens e 210 mulheres), divididos segundo o grau de escolaridade ("Até a 4ª Série do ensino fundamental"; "5ª a 8ª Série do ensino fundamental"; "Ensino médio"; "Ensino superior") e a renda familiar ("Mais de 5 salários míninos"; "De 2 a 5 salários mínimos"; "Até 2 salários mínimos").
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Foram feitas duas perguntas: 1) "Por qual destes partidos o(a) sr(a) tem maior simpatia ou preferência?" e 2) "Nos últimos dias muito se tem falado sobre fidelidade partidária, isto é, se os mandatos pertencem aos candidatos ou aos partidos políticos pelos quais foram eleitos. Na sua opinião, um mandato pertence ao partido político ou ao próprio candidato eleito?".
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Eis os resultados:
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PREFERÊNCIA PARTIDÁRIA

- "Nenhum/Não tem preferência" - 46%
- "PT" (Partido dos Trabalhadores) - 17%
- "PMDB" (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) - 14%
- "Não sabe/Não opinou" - 7%
- "PSDB" (Partido da Social-Democracia Brasileira) - 6%
- "PSB" (Partido Socilaista Brasileiro) - 2%
- "PDT" (Partido Democrático Trabalhista) - 1%
- "DEM" (Democratas, ex-PFL - Partido da Frente Liberal) - 1%
- "PPS" (Partido Popular Socialista) - 1%
- "PSOL" (Partido Socialismo e Liberdade) - 1%
- "PTB" (Partido Trabalhista Brasileiro) - 1%
- "PV" (Partido Verde) - 1%
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> "PCdoB" (Partido "Comunista" do Brasil) e "PP" (Partido Progressista) também foram citados, mas não atingiram 1% da preferência dos 406 entrevistados.
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FIDELIDADE PARTIDÁRIA ("A quem pertence o mandato"?)
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- "Pertence ao próprio candidato eleito" - 48%
- "Pertence ao partido político" - 37%
- "Não sabe/Não opinou" - 15%
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> Clique
aqui para ver a pesquisa (arquivo em formato pdf).
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Como se nota, em ambos os casos, o índice de adesão aos partidos aparece sempre em desvantagem - ora em relação à indiferença ("Nenhum/Não tem preferência" - 46%), ora ao "próprio candidato eleito" (48%) -, debatendo-se com os altos índices dos que "não sabem" ou "não opinaram" (7% em "Preferência Partidária" e 15% em "Fidelidade Partidária").
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De outro modo, também é possível argumentar que a soma dos percentuais de todos os partidos citados pelos entrevistados (45%) praticamente empata com o índice de "indiferentes". Logo, os partidos políticos em Rio Preto desfrutariam da preferência ou simpatia de metade da população; isto é, uma situação bem diferente do cenário de descrédito traçado. Ledo engano...
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O índice de adesão partidária mais próximo da realidade vivida na cidade está menos na "Preferência" estimulada pelo Ibope e mais na defesa dos riopretenses da "infidelidade" partidária dos políticos. Em outras palavras, o resultado da segunda questão formulada pelo Ibope diz mais sobre a vida política de Rio Preto do que os percentuais de preferência partidária.
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Isso ocorre por dois motivos. Primeiro, porque o resultado de 45% de simpatia e adesão ao partidos mascara a real presença do personalismo nas relações políticas verificadas na cidade. Em termos gerais, as opiniões aferidas em Rio Preto são compatíveis com recentes médias nacionais, porém, não escondem suas especificidades.
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Se, por um lado, os números riopretenses confirmam a preferência dos brasileiros pelo PT, PMDB, PSDB - nessa mesma ordem e, aproximadamente, com os mesmos percentuais - , por outro, a "lista" de partidos mencionados pelos entrevistados coincide com a representação desses mesmos partidos no Legislativo municipal.
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Exceto PSB, PDT e PV, atualmente todos os demais possuem vereadores na Câmara; e os 2% do PSB certamente se devem à ascendência do "cacique" Valdomiro Lopes e à "liderança" de Manoel Antunes.
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Com isso, a "Preferência" registrada pela pesquisa não refletiria também uma certa identificação da população com o partido do vereador de sua simpatia? Ou pior: os partidos não seriam tomados pelos eleitores como mera extensão dos próprios políticos, tal como ocorria na época da República Velha?
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Veja-se o caso do PPS, por exemplo. Em 7 anos de governo "pepessista" na cidade, o partido tem apenas 1% de "Preferência", o que leva a crêr que enventuais bônus políticos colecionados pela gestão foram e serão creditados única e exclusivamente na conta de Edinho Araújo, e não na do partido. Ou seja, o exemplo "pepessista" atesta a permanência do personalismo na arena política de Rio Preto, agora, em versão profissional.
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Por tudo isso, a defesa da "infidelidade" partidária, expressa por 48% das pessoas ouvidas pelo instituto, reforça a chaga do iberismo e de seu caractére personalista mesmo aqui, numa terra com gente regida ao "passo do malho". Eis a questão: com os partidos sendo tratados ora como balcões de negócios, ora como posse de figuras supostamente ilustres, será possível reunir forças e escrever com todas as letras um outro destino para a vida partidária em Rio Preto, no Brasil?
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Se diante dos fatos realmente não há argumentos, tendo em vista os dados alarmantes, existirão condições objetivas na cidade para que os partidos se afirmem enquanto legítimas expressões da vontade coletiva de determinada classe ou setor de classe?
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A esquerda riopretense e especialmente a seção municipal do Partido Comunista Brasileiro (PCB) devem responder urgentemente a esta questão. E nem é preciso dizer porquê...

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